quinta-feira, 3 de março de 2011

Reflexão coagida

Um amigo meu, certa feita, me perguntou se eu tinha medo da morte. Eu disse a ele que procurava não pensar sobre isso, que me preocupava mais com coisas mais imprevisíveis e menos definitivas. Era a minha intenção mudar o assunto.
Ele, porém, displicentemente, insistiu em me perguntar: “Mas por que as pessoas morrem?”. Poderia ter respondido de muitas formas ao questionamento do meu amigo. Ter perguntado de volta se ele nunca teve aulas de biologia, ter mandado ele lançar a pergunta no Google e me deixar em paz ou ter dito um seco “porque sim”.
No entanto, ocorreu-me, de súbito, uma resposta que me pareceu óbvia e satisfatória. Disse-lhe que é porque se elas fossem eternas, não haveria a certeza de um fim e então ninguém tentaria efetivamente viver. Haveria um eterno descaso, uma eterna preguiça. O medo tanto nos move quanto nos faz atribuir um grande valor a certas coisas da vida. Aquelas que estarão um dia, no futuro, findas.
É triste, mas a gente tem que saber que vai morrer, ou a gente não vive. Ao menos funciona dessa forma para muitas pessoas, a perspectiva ainda que remota do fim torna-se um grande incentivo à exploração do que há de melhor na transitoriedade. Buscamos amar, enquanto há tempo; procuramos desesperadamente a felicidade, porque assim qualquer brevidade de existência valeria à pena. Sim, é demasiadamente breve e estranhamente bonito.
A fé nos leva a considerar a possibilidade de que a morte seja apenas mais um começo, uma grande libertação do corpo em benefício à alma, o que talvez seja verdade. Mas, particularmente, eu não acho sensato me apegar muito a isso enquanto estiver por aqui, nesse mundo. Vai que isso é tudo? Eu tenho cultivado mais a minha fé na vida, pelo menos por enquanto. Não sei se é a melhor coisa a se fazer e eu disse que não gostava de falar nesse assunto, pois ele é tão incerto que me assusta. Mas agora que já fui de certa forma coagida a pensar, espero apenas aprender a lidar melhor com tudo isso, que querer entender de verdade é pretensão demais.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Para mudar de direção

“Monotonia voluntária defensiva” é um conceito que eu inventei para caracterizar o meu estado fundamental (é claro que havia momentos de exceção) nas minhas últimas férias. Parecia uma condição bastante conveniente e agradável, pelo menos enquanto estava restrita a um curto período posterior ao fim de um ano escolar atribulado.

Mas depois eu parei pra pensar sobre isso. Pensei e pensei nessas palavras, até finalmente me sentir decepcionada comigo. Eu estou querendo o que da vida, afinal? Que ela me dê apenas subsídios seguros para que eu me acomode confortavelmente dentro do meu próprio mundo e basta? Isso é triste, não é desejo que se tenha. Eu almejo tanta coisa que está fora dessa minha órbita. Existem atitudes que eu queria ter tomado e palavras que eu queria ter dito para tentar conseguir algumas dessas coisas, só que é sempre mais “seguro” esperar pra ver o que acontece sem tomar iniciativas. Ah, o incansável paradoxo da tentativa de equilíbrio entre medos e vontades sempre me aflige. Medo ou preguiça permitiram que eu me voluntariasse a monotonia de apenas me defender do inseguro. E caramba, isso não aconteceu apenas nessas férias.

Sabe, não é suficiente você querer que o mundo te dê tudo, incluindo todos os seus sonhos devidamente realizados em suas mãos. Acho que a gente tem que buscar o que de certa forma exige e eu entendo que o mais difícil seja descobrir qual a forma mais certa de se tentar. O que eu quero, particularmente, é ser feliz e completa. Ser completamente feliz...

Eu sei que ainda não sei andar pelo lado errado ou surpreender a mim e aos outros, sem defesa pronta. Sei que ainda não sei me arriscar de olhos fechados ou mudar de direção sem pensar só pra ver o que acontece. Não foi muito claro, mas é que dizem que isso traz felicidade; se sujeitar as adversidades de cada vertente possível da vida. Eu ainda não sei me libertar dessa forma, mas certamente não é meu desejo ter a estagnação como eterna companheira. Quero-a longe ainda agora.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Filosofias parciais

No que consiste a imparcialidade humana? Definição do dicionário Michaelis para “imparcial”: 1 Que não é parcial. 2 Que não se deixa corromper. 3 Que julga sem paixão. 4 Que não sacrifica a verdade e a justiça a considerações particulares.

Ora, mas se todos os nossos pensamentos são influenciados por acontecimentos específicos, conselhos determinados, fatos particulares... Se nossas decisões são influenciadas pelo momento, pelos sentimentos, pelas emoções! Como assim sem paixão? Somos humanos típicos ou somos imparciais. Fatidicamente, não é uma questão de escolha.

É por isso que eu nunca gostei de julgar, tampouco de ser julgada. Não é só por princípios pessoais, há de se considerar esse simples fundamento, pois tudo aquilo que não se constitui de mero fato está à mercê da interpretação pessoal. Se bem que há a questão do ângulo de análise e então nem mesmo os fatos escampam.

Gostando ou não, porém, fazer escolhas é inevitável. A questão é que é irritante pensar na subjetividade dos limites quanto ao que é certo e ao que é errado ou quanto ao que é bom e o que é ruim. Até que ponto conceitos como verdade e justiça são absolutos, considerando que a nossa “alma” também nos corrompe?

Diante disso, faz tempo que procuro fazer uso de um eterno benefício da dúvida quando se trata de gente. Em relação às outras coisas, procuro não me apegar a opiniões absolutas, normalmente me permito gostar e desgostar mediante qualquer mérito ou demérito relevante. Sei que alguns amigos contra-argumentariam que eu sou cabeça-dura quando ponho algo na mente, que não é fácil assim me convencer nessas ocasiões. Mas aí é outro caso, muitas vezes isso é teima, é orgulho, vontade de ter razão. Talvez gosto pela discussão saudável do momento... Outras vezes é por convicção. Mas, ainda que secretamente, eu sempre tento levar em conta os outros lados. Eu tento... Talvez tirar uma média dos pontos de vista seja o jeito seguro de se chegar a uma conclusão.

De qualquer forma, vai ficando cada vez mais evidente a minha impossibilidade de ser completamente imparcial. E não se restringe a mim, portanto esse é um conceito bastante estranho para ser tão solicitado quanto é. O jeito é sair ponderando o que convém com bastante cautela, porque se ser imparcial fosse uma alternativa, faltaria um passo para a perfeição. Provavelmente, não teria a menor graça.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sentir



Tem coisas boas que a gente sente e que extrapolam a nossa capacidade de expressá-las por palavras. São como segredos, só saberá quem sentiu.


Tem momentos que são como boas canções, aquelas intensas, que produzem uma sensação que pode ser tão completa a ponto de fazer com que não sejam esquecidas, embora sejam absolutamente finitas. Depois que eles acontecem, ligamos o replay imperfeito da nossa memória.

Tem detalhes aparentemente ínfimos que mudam tudo, que se tornam maiores a cada vez que são lembrados, até se tornarem lindos gigantes.

Quero a sorte de ter na vida muitos segredos assim, momentos assim, detalhes assim. Se sentir é inevitável, convém desejar as melhores ramificações desse privilégio

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Seria possível?

Às vezes eu sinto falta de alguém pra compartilhar. Não somente informações superficiais, não apenas novidades relevantes. Não só isso. Eu sinto falta de dividir tantas coisas mais, de pensar que alguém realmente consegue me ler e me entender, um pouquinho que seja, ou mesmo muito, sem deixar de gostar do conteúdo.

Se fosse verdade esse meu pensamento, acho que me sentiria como um refugiado existencial que encontrou um abrigo seguro depois de muito procurar, indo contra toda a confusão que há nesse mundo e se desvencilhando um pouco das convenções usuais que adornam nossas vidas. Eu poderia simplesmente ser eu e bastaria. O mesmo valeria para o meu pretenso “entendedor”.

Sim, trata-se de uma utopia romântica. Arnaldo Jabor, em Relacionamentos, já explicitou: “[...] Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. [...]Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?”

Ele tem toda razão. Eu, no entanto, tenho planos grandes demais pra me conformar em ser só. Bem, ilusão é um mal dos que nasceram assim, sensíveis demais. Eu quero a “solidão de ser só dois”. Seria possível? É a incerteza que alimenta os sonhos e talvez valha mais a pena viver numa procura meio despretensiosa do que se conformar em morar eternamente numa concha. Prefiro morar num casulo e não descartar o poder da “possibilidade”.

Enquanto isso eu continuo compartilhando fragmentos mais convencionais de mim com qualquer um que se pré-disponha a ficar por perto. As alegrias de bolso vão, de qualquer forma, colorindo os meus dias. Solitários, como Jabor pressupôs serem os dias de todos nós mortais, e inconformados, como desejam os meus sonhos.

Pensamentos Desgarrados

Pouco tempo atrás, um amigo me perguntou se poderia fazer um tipo de mapa astral meu. Eu nunca me preocupei muito em acreditar ou não em astrologia, horóscopo, búzios, quiromancia ou qualquer espécie de coisa mística com a qual pudesse tentar me entreter uma cigana serelepe qualquer. É claro que eu dava uma olhada, de vez em quando, nas previsões sobre signos, eternamente encaixadas nas páginas das revistas da mulher antenada. Mas uma das coisas que sempre me irrita é a capacidade sutil que essas coisas têm de condicionar as minhas expectativas.
Soa mesmo contraditório essa reação provir de alguém que julga não dar tanta importância ao gênero, mas devo confessar que a imparcialidade talvez não seja exatamente por desinteresse. Mas talvez seja tanto pelo medo de parecer patética ao procurar através desses meios uma orientação quotidiana qualquer, quanto pelo temor a decepção se tais fabulosos “manuais” da vida estivessem equivocado.
Voltando, porém, ao mapa astral e ao meu amigo, que contribuiu para o despertar desses pensamentos desgarrados, fiquei aguardando a conclusão daquele punhado de palavras nas quais estariam, maravilhosamente, traduzidos os principais traços da minha personalidade que revelariam a essência do meu eu.
Eis que finalmente pude ver o resultado. Gostei particularmente da parte que falava sobre a minha “triunfal inteligência”, mas de repente, logo depois de ler certas passagens, percebi pela primeira vez desde que nasci que a minha vida é uma farsa. Na verdade, eu não sou ponderada, flexível e coerente. Sou reprimida, impulsiva e desequilibrada, isso estava claramente indicado. Ao menos foi um consolo ler que “A sua capacidade de transcender a realidade material e emocional do cotidiano e atingir metas mais elevadas é o que existe de mais brilhante em você”. Logo eu, quem diria? A interpretação do mapa dizia também que eu deveria ter cuidado para não perder a noção da realidade, embora a minha grande busca seja pela sabedoria. Essa última parte até que se aplicaria, mas quanto à metade do que havia no mapa... Bobagem.
Sou mesmo é condicional, mas a racionalidade há de me guiar! Ou de me servir de peneira, ao menos. Enquanto não me convencerem por completo do que posso acreditar, fico com a felicidade da dúvida. Não deixa de ser divertido.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Shyness is nice and shyness can stop you..."


"[...]from doing all the things in life you'd like to" [Ask, The Smiths]

Um dos grandes entraves a minha ascensão social ao grupo das pessoas que estão constantemente em evidencia, sempre foi a minha timidez. O mundo dos que sofrem desse mal é tão interessante quanto totalmente particular. Sempre couberam apenas a mim os relatos das minhas grandes revoluções pessoais.

Estava pensando sobre uma época em que essa palavra, timidez, assombrava os meus dias. Eu deveria ter uns doze anos quando começou e uns quatorze e meio quando começou a terminar, foi uma fase complicada. Eu não era exatamente anti-social e nem tinha dificuldades em compartilhar algumas coisas sobre mim com meus amigos, mas levava tempo pra confiar verdadeiramente neles. E gostava também de me relacionar com as pessoas, desde que não me sentisse ameaçada por elas.

Porém, nunca fui expansiva, não falava as coisas sem pensar e estava sempre preocupada com a opinião e aceitação alheia. Realmente terrível, ainda mais se isso estiver aliado a um perfeccionismo que fazia com que eu me odiasse por tudo o que eu não conseguia ser. Eu comecei então a me apoiar naquilo que eu era realmente boa na época, tirar boas notas e ter comportamento exemplar. Ganhei até medalhas por isso. Só não consegui o que eu realmente queria; a admiração de todos. Parecia inclusive que eles me criticavam, para o meu desânimo. Foi bom poder mudar de colégio e também de perspectiva.

A minha timidez com certeza já me impediu de fazer muitas coisas, me fez desistir de outras, mas sempre fez parte do que eu sou. Embora hoje eu esteja completamente diferente do que era antes, alguns dos meus valores e pensamentos foram construídos lá, naquela época em que eu me escondia. Eu aprendi a me conhecer melhor em cada momento que dediquei a analisar as minhas atitudes, então seguir meus próprios passos me serviu pra algo, afinal. Aprendi também a respeitar os outros, a ter cuidado com julgamentos sobre as pessoas e a ter senso de responsabilidade. Enfim, aprendi muitas coisas.

Meu jeito introspectivo, com o tempo, foi dando lugar a uma personalidade quase (que fique claro esse quase) sempre equilibrada, pertencente a uma menina mais segura, mais leve e mais feliz. É claro que eu precisei conhecer pessoas em quem me espelhar e amigos que me incentivavam a partir do momento que deixavam claro pra mim que eles gostavam muito da garota que eu era e que sempre estariam do meu lado. Havia também a minha família, que sempre me amou muito e me deixou livre pra ser o que eu quisesse ser, desde que parecesse seguro, é claro. Aprendi, felizmente, a importância de confiar em mim e nas pessoas que eu amava.

Quando eu era pequena, adorava imaginar o que aconteceria na minha vida quando eu crescesse. Eu tinha como certo na minha cabeça que o futuro seria maravilhoso e essa era uma forma de me conformar com as coisas que não davam certo. Fiz isso também naquela época ruim, o ápice da minha timidez. Tanta coisa já aconteceu. Eu acho que gosto do que sou agora, mas parece que hoje em dia continuo fazendo a mesma coisa, esperando que o que não está perfeito melhore depois. Não é que o presente seja ruim, mas o tempo passa e a gente cresce pra tentar concertar os erros que sobram. É assim que vida segue.